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7 ene 2008




Por Luis Carlos Mussó







Cláudio Daniel (São Paulo, 1962). Poeta, catedrático, traductor y editor. Autor de Sutra (1992), Yumê (1999) y A sombra do leopardo (Premio “Redescoberta da Literatura Brasileira”, de la Revista CULT, 2001) y Figuras metálicas (2005). Co-editor de Zunái, Revista de Poesía y Debate. Ha emprendido importantes trabajos de divulgación (v.g. Jardim de Camaleões — A Poesia Neobarroca na América Latina, 2004) y sus preocupaciones giran alrededor de la lírica producida en lengua portuguesa, aunque no exclusivamente.

El autor, siempre de rostro afable y con ánimo de colaboración, habló con Casa de las Iguanas. Admirados por las fuerzas de este actor cultural de varias funciones, y bajo el lluvioso cielo de São Paulo a las alturas de noviembre (hace un mes), decidimos acercarnos a su múltiple labor y abordarlo para conocer algo más de la poesía brasileña.

En el caso de Cláudio Daniel, ¿cómo se congenian las labores de creación, cátedra, traducción y edición?
São várias facetas de meu trabalho literário. A poesia, para mim, é também uma forma de crítica literária (já que a criação pressupõe escolhas, recusas e conceitos), assim como a tradução é ao mesmo tempo um trabalho poético criativo e uma forma de reflexão (parafraseando, é claro, Ezra Pound). Se traduzo um poema de José Kozer, é como se estivesse estudando a sua poética, e ao mesmo tempo exercendo a prática criativa, ao buscar as soluções mais adequadas no idioma português. E todo esse trabalho, certamente, tem ressonâncias em minha atividade acadêmica: não por acaso, minha dissertação de mestrado será sobre Ana Hatherly, poeta de vanguarda portuguesa dos anos 60 que é ao mesmo tempo uma notable criadora e uma estudiosa do barroco na poesia e nas artes visuais.


Estás muy ligado a la edición de publicaciones. ¿Cuánto se involucran las revistas en la vida cultural de Brasil? Pienso en Tendências, Ptyx, Vereda y ahora en propuestas como Zunái.

Acredito que as antologias, assim como as revistas e sites de literatura, podem oferecer ao leitor disponível um pequeno panorama da produção poética de um período. Nenhuma antologia é completa, nenhuma diz a última palavra e, certamente, todas cometem equívocos. O mesmo podemos falar sobre as revistas. Das publicações editadas recentemente no Brasil, eu destacaria a Coyote, Oroboro e Et Cetera, que têm dedicado espaço generoso a poetas contemporâneos de qualidade como Ricardo Aleixo, Claudia Roquette-Pinto, Virna Teixeira e Rodrigo Garcia Lopes, entre outros. Estas revistas, e outras como a Sibila, têm publicado também muita coisa de poesia latino-americana, divulgando entre nós autores como Roberto Echavarren, Victor Sosa ou Coral Bracho. Sua distribuição em livrarias, porém, ainda é precária, e os jornais impresos dão pouco ou nenhum destaque a essas publicações, que circulam quase exclusivamente entre os próprios poetas.


Internet se ha convertido en una herramienta válida para la difusión y la gestión cultural. ¿Cómo hacer para evaluar la calidad del material antes de su publicación?
Quando Mallarmé publicou o Lance de Dados, no final do século XIX, ele estava à frente de seu tempo. A imaginação criadora do poeta francês exigia recursos que iam muito além do espaço bidimensional da página impressa (talvez por isso não tenha realizado o seu Livro impossível). Nos anos 50, a Poesia Concreta avançou um pouco mais nesse caminho, apontando outras possibilidades de criação poética, além do discurso, da sintaxe e da própria palavra escrita, pelo diálogo com as outras artes e com a mídia eletrônica. Hoje, temos uma situação inversa: a tecnologia oferece recursos quase ilimitados para a criação, mas a capacidade imaginativa intersemiótica dos poetas e escritores entrou em declínio. O que vemos nos blogues e sites é a adaptação de paisagens já conhecidas, como a coluna de jornal ou revista, para o ambiente virtual. Os contos e poemas publicados nos sites e revistas eletrônicas, inclusive, não foram elaborados a partir da linguagem e das possibilidades oferecidas pelo computador; são textos escritos para edição em livro, que aparecem primeiro na Web apenas por causa da facilidade em se publicar na Internet. Acredito que este seja um momento de transição, e que em futuro não muito remoto os poetas estarão desenvolvendo projetos mais ambiciosos, levando em conta os recursos oferecidos pelas novas tecnologias. Em todos os casos, porém, creio que os editores das revistas virtuais devem ter criterios de qualidade para a seleção de autores e textos, caso contrário, caíremos Numa espécie de “vale-tudo” que presta um grande desserviço à divulgação da literatura séria.


Sabemos de los dos polos de tu país, Rio de Janeiro y São Paulo. ¿Qué significado tienen para la literatura brasileña obras pioneras como Paulicéia Desvairada, de Mário de Andrade, o Libertinagem de Manuel Bandeira?
Eu não percebo uma divisão ou rivalidade literária entre São Paulo e Rio de Janeiro, e sim uma fronteira clara entre os poetas que praticam uma escrita construtivista, que deriva de João Cabral e da Poesia Concreta, e outros que preferem uma dicção coloquial-cotidiana, que parte de Bandeira, algum Drummond e da Poesia Marginal da década de 1970. Porém, a poesia brasileira vai muito além dessa dicotomia, e apresenta uma rica variedade de tendências estéticas, desde o minimalismo até o neobarroco, a etnopoesia e a poesia digital, entre outras. Há espaço para todos, que cada um seja sincero naquilo que realmente acredita, e pratique com seriedade a sua arte. Bandeira e Mário de Andrade são autores já clássicos de nosso Modernismo (que para os brasileiros não significa a mesma coisa que para os hispano-americanos: modernismo, para nós, é a vanguarda da década de 1920, e não o parnaso-simbolismo de Ruben Darío). São autores consagrados, porém, a meu ver, menos instigantes, hoje, que Oswald de Andrade, Raul Bopp ou Murilo Mendes, que realizaram um trabalho mais radical com a palavra poética.


¿Y cuánto peso tuvieron, en cambio, movimientos como Verde-Amarelo?
O Verde-amarelismo foi uma tendência praticada na década de 1920 por Casiano Ricardo e outros poetas que adotaram o nacionalismo como ideología política e prometo estético: um nacionalismo autoritário, xenófobo, conservador, com forte influência do Integralismo (a vertente brasileira do fascismo, liderada por Plínio Salgado, aliás poeta do grupo Verde-amarelo). Poucas obras desse grupo sobreviveram, entre elas o Martim-Cererê, de Casiano Ricardo. Hoje, é pouco mais do que uma referência histórica; não exerceu influência comparável à da Antropofagia, integrada por Oswald de Andrade, Raul Bopp e Tarsila do Amaral, que é o ponto de partida de quase toda a renovação artística brasileira, a partir da década de 1960 (por exemplo, o Teatro Oficina, o Cinema Novo, a Tropicália).


¿Funcionaron los deseos de combinar elementos de vivencias tradicionales con reivindicación social, digamos en el caso de Carlos Drummond de Andrade?
Drummond foi um grande poeta; Rosa do Povo, por exemplo, é um livro que aborda temas sociais e políticos sem perder de vista o trabalho criativo com a palavra. Porém, a obra do autor mineiro é imensa e desigual; seus dez primeiros livros são notáveis, e várias obras posteriores também, mas ele escreveu muita poesia de circunstância, de valor estético reduzido. Teve muitos imitadores, e ainda os tem hoje: autores que preferem dialogar com a parte mais fácil da obra de Drummond (já que é quase impossível escrever algo do nível de Áporo ou da Máquina do Mundo). Por outro lado, é preciso destacar que poetas de vanguarda como Augusto de Campos também abordaram temas políticos (como no poema Greve) sem fazer concessões a um discurso tradicional, linear, de pouco valor artístico. Não existe uma oposição entre consciência estética e consciência social; um bom poeta pode abordar qualquer tema com a mesma criatividade e eficiencia.


Las rupturas vanguardistas (por ejemplo, las nacidas en la Antologia Noigrandes) que privilegian la poesía visual, ¿qué repercusiones tuvieron?
Acredito que quase toda a poesia brasileira de qualidade praticada nas últimas décadas recebeu uma influência, maior ou menor, da poesia concreta: basta pensarmos em nomes como Paulo Leminski, Antônio Risério, Sebastião Uchoa Leite, Torquato Neto, Arnaldo Antunes, Horácio Costa, Josely Vianna Baptista, entre muitos outros. A poesia concreta não apenas introduziu novos procedimentos estéticos, mas também atualizou o pensamento poético, graças ao notável trabalho teórico e ensaístico de Haroldo de Campos; ampliou nosso repertorio de leituras, com as traduções pioneiras feitas pelos concretos de autores como Ezra Pound, Cummings, Maiakovsky, o Joyce do Finnegans Wake, entre outros; e ainda sinalizou o diálogo com outras mídias, como o computador, a holografía, o compact disc. O desafio para os novos poetas, em minha opinião, é saber assimilar essa herança de maneira creativa e pessoal, não epigônica; a poesia concreta é um ponto de partida, mas não debe ser um ponto de chegada.


Estás al tanto de lo que se produce en lengua portuguesa en todo el mundo. ¿Qué ofrece la poesía de y para lusoparlantes? ¿Qué hay en África, Asia, etc.?
Há muita coisa interessante sendo producida hoje em Portugal, Angola, Moçambique, Macau e em outros países e territorios onde é falada a lengua portuguesa, mas, infelizmente, essa produção é quase totalmente desconhecida no Brasil, pois não temos um intercâmbio poético com esses países, com poucas exceções. A obra completa do portugués Herberto Helder foi publicada aqui apenas neste ano, e autores essenciais como Luiza Neto Jorge, Fiama Hasse Pais Brandão e Al Berto, para citar poucos nomes, continuam inéditos no Brasil (embora sejam estudados nas universidades; a bibliografía, claro, é quase toda portuguesa, já que nosso mercado editorial deu as costas para a rica literatura de Portugal). Em Angola, eu destacaria o trabalho de Ruy Duarte de Carvalho, Arlindo Barbeitos, João Maimona, Abreu Paxe, entre outros (aliás, publiquei há pouco a antologia Ovi-Sungo, Treze Poetas de Angola, pela Lumme Editor).


¿Qué proyectos tiene para el futuro?
Escrever um novo livro de poemas, que se chamará Fera Bifronte; escrever uma monografía sobre a poesia brasileira contemporânea; concluir o meu mestrado; e encontrar tempo para ler Celan, passear com meu filho no parque, ouvir jazz e asistir a um bom filme de Pasolini ou Buñuel (ao excesso de trabalho debe corresponder algum grau de ociosidade, para não enloouquecermos).


¿Qué palabras les deja a los poetas más jóvenes?
Pesquisar sempre; desconfiar das próprias conquistas; renovar-se como o camaleão que troca de escamas; e não acreditar em tudo o que dizem os poetas mais velhos.


De Sutra

SUTRA

para Reginabhen

pálpebras de alfazema
cintilantes luas sem enigma
sob o céu anúbis-tânger-cicatriz
na seda cor de nuvem que simula o desejo
serpenteiam formas de dançarina moura
de seios tamarindo e lábios sabor anis
o seu púbis shiva kali irrompe como rosa
cítara que emudece o pensar do amante
e lhe toca o coração
no mais cálido êxtase de santos dervixes
mulher sem álgebra, sem mitologia, sem cabala
ou neurocibernética quântica
a mais-que-perfeita expressão do verbo
que resume à sua maneira schopenhauer
os manuscritos de alexandria
os fabulosos cálculos dos astrônomos
e os acordes finais e um pianista de blues
dama feita para mim e o meu desejo de outro
que em tuas mãos é um leão domesticado
e no entanto és apenas uma mulher
deitada no lado esquerdo da cama



SUTRA
párpados de alhucema
cintilantes lunas sin enigmas
bajo el cielo anubis-tánger-cicatriz
en la seda color-de-nube que simula el deseo
serpentean formas de danzarina mora
de senos tamarindo y labios sabor anís
su pubis shiva kali irrumpe como rosa
cítara que enmudece el pensar del amante
y le llega al corazón
en el más cálido éxtasis de santos derviches
mujer sin álgebra, sin mitología, sin cábala
o neurocibernética quántica
la expresión pluscuamperfecta del verbo
que resume a su manera schopenhauer
los manuscritos de alejandría
los fabulosos cálculos de los astrónomos
y los acordes finales de un pianista de blues
dama hecha para mí y mi deseo de otro
que en tus manos resulta un león domesticado
mientras eres apenas una mujer
acostada en el lado izquierdo de la cama


(Traducción de Jesús Barquet)


BOLERO

yo
no soy
un hombre
sin sombra
ni árbol, piedra
molusco
soy dios
niña y perro, ángel malo
jardín de trolls
playa desierta
soy palabra
y niervos y sangre y rostro
y manos
y una outra soledad
y mi lengua
negro cacto, sabre persa
dulce rosa
quelque voix
in long gones blues
quiere buscarte
diosa de nieve
tu blanco soplo de mármol
en ojos sin ojos
tu piel de cristal
paloma estrella y nardo
tu miedo del mar
noche serpientes invierno
tu silencio
tu reflejo
tu dolor
tu saliva
tu sexo
tu paso
sólo tu paso
de inmóvil
sombra
herida

(Poema escrito en español por el autor)


De Yumê

LI T'AI PO

en el
jardín
verde-jade
flores líquidas
fluyen, en el estanque:
— aquí es más allá
de Cualquierparte


ODA SERIAL

a Elson Fróes

I

chispas
de oro
— el habla
del león

II

begonias
del blanco
al rojo
siempreluz

III

cantovital
fluye lírico
de la yugular
a la carótida

(Traducción de Reynaldo Jiménez)


De A Sombra do Leopardo


POROS

Un silencio verde — Paul Celan

El
verde,
su piel
ácida. Tocar
los poros
del verde, florecimiento
metálico. Abrir
su voz de ala
y sombra.
Ojos, faisanes
de ceguera.
Joyas de irada
divinidad.
Las abejas y las langostas
Se aman, se odian,
caen tulipanes
en el garganta
del tiempo.
Tus manos tantean
la nervadura imprecisa
de la cicatriz
y no hay mar,
ni pan, ni página.
Te alucino
al mirarme
en el silencio
de una naranja
cuadrada.
Aquí, ya nada vegeta.
Los alacranes me ahogan
en tu lágrima
y se cierra la puerta
izquierda. Toda palabra
me hiere com su color.
Cuando cesa
el canto, callados,
nos oímos
en un corte
azul.

(Traducción de Rodolfo Häsler)

De A sombra de leopardo, 2001
Traça
(Entre fólios de ciência antiga e espectros de monjas nuas desencarnadas.)

(Olhos opiados afundam em partituras da Outra Margem.)

(Ruge um leão hipnótico.)

(Letras sangradas na pele de carneiro. Figuras metálicas em expansão.)

(Palavras criam realidades.)

(Traças cavam sendas no papel.)

(Toda leitura é uma cicatriz.)


De Figuras metálicas

EN EL OJO DE LA AGUJA

Tatuar silencios como hormigas.
Ahogar los relojes
en un párpado.
Vestir el grito con la piel
del escarabajo.
Torcer los músculos de la cara
en perplejidad.
Cruzar la vía absurda
de las uñas, desorientado,
oscuro, doblado
sobre las nalgas.
Saber que toda flor es ridícula.
E incluso así cultivar
el mineral,
el dolor,
la sorda epilepsia.
Olvidar el propio nombre
Y sobar la tierra
hasta el agotamiento.
(Fuese apenas una canción de cosecha
dirías amor y otras
palabras fáciles)
Con la risa estúpida del camello,
viajar al ojo
de la aguja, laberíntico, insano,
creyendo que toda historia es un ácido.
Después cauterizar la herida,
aceptar el reflejo,
el simulacro,
acordarse
de la semilla antes del pan
Tayata gate gate
paragate parasamgate
boddhi soha.

(Traducción de María Rosa Maldonado)